1.
(Ufsm 2015) Os hábitos alimentares
estão entre os principais traços culturais de um povo. Era de se esperar,
portanto, que houvesse alguma menção sobre o assunto no primeiro contato entre
os portugueses e os nativos, conforme relatado na Carta de Pero Vaz de Caminha.
De fato, Caminha escreve a respeito da reação de dois jovens nativos que foram
ate a caravela de Cabral e que experimentaram alimentos oferecidos pelos
portugueses:
Deram-lhe[s] de comer: pão
e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer
quase nada de tudo aquilo. E se provavam alguma coisa, logo a cuspiam com nojo.
Trouxeram-lhes vinho numa taça, mas apenas haviam provado o sabor,
imediatamente demonstraram não gostar e não mais quiseram. Trouxeram-lhes água num
jarro. Não beberam. Apenas bochechavam, lavando as bocas, e logo lançavam fora.
Fonte: CASTRO,
Silvio (org.) A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM,
2003, p. 93.
A partir da leitura do fragmento, são feitas
as seguintes afirmativas:
I. No fragmento, ao dar destaque as reações dos nativos
frente à comida e a bebida oferecidas, Caminha registra o comportamento
diferenciado deles quanto aos itens básicos da alimentação de um europeu.
II. No fragmento, percebe-se a antipatia de
Caminha pelos nativos, o que se confirma na leitura do restante da carta quanto
a outros aspectos dos indígenas, como sua aparência física.
III. O predomínio de verbos de ação, numa sequência
de eventos interligados cronologicamente, confere um teor narrativo ao texto.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas II e III.
d) apenas I e III.
e) I, II e III.
2.
(Insper 2014) Sua
fala era uma vibração de amor, que alvoroçava os corações, o olhar como luz de
lâmpada encantada, que fascina e desvaira; o sorriso era um lampejo de volúpia,
que fazia sonhar com as delícias do Éden.
Era enfim o tipo
o mais esmerado da beleza sensual, mas habitado por uma alma virgem, cândida e
sensível. Era uma estátua de Vênus animada por um espírito angélico.
Ainda que Eugênio
não conhecesse e amasse Margarida desde a infância, ainda que a visse então
pela primeira vez, era impossível que toda a virtude e austeridade daquele
cenobita em botão não se prostrasse vencido diante daquela deslumbrante visão.
Margarida estava
vestida de cor-de-rosa com muita graça e simplicidade; tinha por único enfeite
na cabeça um simples botão de rosa. Eugênio esteve por muito tempo mudo e
entregue a um indizível acanhamento diante da companheira
de sua infância, como se se achasse em presença de uma alta e poderosa
princesa.
(GUIMARÃES,
Bernardo. O seminarista. São
Paulo: FTD, 1994.)
Considerando-se a organização do texto, é
correto afirmar que ele é fundamentalmente
a) narrativo, pois relata o
relacionamento amoroso entre os personagens Margarida e Eugênio.
b) dissertativo, pois
apresenta a defesa do ponto de vista de Eugênio sobre a personagem Margarida.
c) injuntivo, pois tem a
intenção de instruir o leitor acerca das características da personagem.
d) informativo, pois fornece
dados sobre a personagem Margarida de forma clara e objetiva.
e) descritivo, pois produz um
retrato verbal subjetivo ao enumerar as características de Margarida.
3. (Ufsm
2014) A Carta de Pero Vaz de Caminha é o
primeiro relato sobre a terra que viria a ser chamada de Brasil. Ali,
percebe-se não apenas a curiosidade do europeu pelo nativo, mas também seu
pasmo diante da exuberância da natureza da nova terra, que, hoje em dia, já se
encontra degradada em muitos dos locais avistados por Caminha.
Tendo isso em vista, leia o fragmento a seguir.
Esta
terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos, até outra
ponta que contra o norte vem, de que nós deste ponto temos vista, será tamanha
que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas por costa. Tem, ao longo do
mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e
a terra por cima é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a
ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.
Pelo
sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender d’olhos não
podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa.
Nela
até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal
ou ferro; nem o vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e
temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora os
achávamos como os de lá.
As
águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo
aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
CASTRO, Sílvio (org.). A
Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 2003, p. 115-6.
Esse fragmento apresenta-se como um texto
a) descritivo, uma vez que
Caminha ocupa-se em dar um retrato objetivo da terra descoberta, abordando suas
características físicas e potencialidades de exploração.
b) narrativo, pois a “Carta”
é, basicamente, uma narração da viagem de Pedro Álvares Cabral e sua frota até
o Brasil, relatando, numa sucessão de eventos, tudo o que ocorreu desde a
chegada dos portugueses até sua partida.
c) argumentativo, pois Caminha
está preocupado em apresentar elementos que justifiquem a exploração da terra
descoberta, os quais se pautam pela confiabilidade e abrangência de suas
observações.
d) lírico, uma vez que a
apresentação hiperbólica da terra por Caminha mostra a subjetividade de seu
relato, carregado de emotividade, o que confere à “Carta” seu caráter
especificamente literário.
e) narrativo-argumentativo,
pois a apresentação sequencial dos elementos físicos da terra descoberta serve
para dar suporte à ideia defendida por Caminha de exploração do novo
território.
4.
(Pucrs 2014) Leia
o poema “Elegia de agosto”, de Manuel Bandeira.
A nação elegeu-o seu Presidente
Certo de que jamais ele a decepcionaria.
De fato,
Durante seis meses,
O eleito governou com honestidade,
Com desvelo,
Com bravura.
Mas um dia,
De repente,
Lhe deu a louca
E ele renunciou.
Renunciou sem ouvir ninguém.
Renunciou sacrificando o seu país e os seus amigos.
Renunciou carismaticamente, falando nos
pobres e
humildes que é tão difícil ajudar.
Explicou: “Não nasci presidente.
Nasci com a minha consciência.
Quero ficar em paz com a minha consciência.”
Agora vai viajar.
Vai viajar longamente no exterior.
Está em paz com a sua consciência.
Ouviram bem?
ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA
E que se danem os pobres e humildes que é
tão difícil ajudar.
Com base no poema, afirma-se:
I. Os versos abordam uma temática prosaica, de
aparente simplicidade, muito presente na totalidade da obra de Manuel Bandeira.
II. Uma certa melancolia, associada ao
sentimento de conformismo diante da realidade, é perceptível ao longo do poema.
III. O poema apresenta um traço narrativo,
trazendo, inclusive, uma fala registrada em discurso direto.
IV. As marcas de oralidade e a presença de
adjetivos evidenciam o lirismo exacerbado que caracteriza o sentimento de mundo
do poeta.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Para responder à(s) questão(ões) a seguir,
leia o fragmento de um texto publicado em 1867 no semanário Cabrião.
São Paulo,
10 de março de 1867.
Estamos
em plena quaresma.
A
população paulista azafama-se a preparar-se para a lavagem geral das
consciências nas águas lustrais do confessionário e do jejum.
A
cambuquira* e o bacalhau afidalgam-se no mercado.
A
carne, mísera condenada pelos santos concílios, fica reduzida aos pouquíssimos
dentes acatólicos da população, e desce quase a zero na pauta dos preços.
O
que não sobe nem desce na escala dos fatos normais é a vilania, a usura, o
egoísmo, a estatística dos crimes e o montão de fatos vergonhosos, perversos,
ruins e feios que precedem todas as contrições oficiais do confessionário, e
que depois delas continuam com imperturbável regularidade.
É
o caso de desejar-se mais obras e menos palavras.
E
se não, de que é que serve o jejum, as macerações, o arrependimento, a
contrição e quejandas religiosidades?
O
que é a religião sem o aperfeiçoamento moral da consciência?
O
que vale a perturbação das funções gastronômicas do estômago sem consciência
livre, ilustrada, honesta e virtuosa?
Seja
como for, o fato é que a quaresma toma as rédeas do governo social, e tudo
entristece, e tudo esfria com o exercício de seus místicos preceitos de
silêncio e meditação.
De
que é que vale a meditação por ofício, a meditação hipócrita e obrigada, que
consiste unicamente na aparência?
Pois
o que é que constitui a virtude? É a forma ou é o fundo? É a intenção do ato,
ou sua feição ostensiva?
Neste
sentido, aconselhamos aos bons leitores que comutem sem o menor escrúpulo os
jejuns, as confissões e rezas em boas e santas ações, em esmolas aos pobres.
(Ângelo
Agostini, Américo de Campos e Antônio Manoel dos Reis. Cabrião,
10.03.1867. Adaptado.)
* Iguaria constituída de brotos de abóbora
guisados, geralmente servida como acompanhamento de assados.
5.
(Unesp 2014) Pelo seu tema e
desenvolvimento argumentativo, o texto pode ser classificado como
a) crítico.
b) lírico.
c) narrativo.
d) histórico.
e) épico.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
A questão a seguir refere-se ao fragmento de Capitães
da Areia reproduzido abaixo.
O TRAPICHE
SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO, as crianças dormem.
Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do
trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente.
A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora,
iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros
carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura
das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nesta ponte
de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério
do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras,
daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.
Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se
estende agora o areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de
ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos,
lentamente, a areia foi conquistando a frente do trapiche. Não mais atracaram
na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não mais trabalharam ali os
negros musculosos que vieram da escravatura. Não mais cantou na velha ponte uma
canção um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva em frente ao
trapiche. E nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões, o imenso
casarão. Ficou abandonado em meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009. p. 25.
6. (Ufrn 2013) Em relação aos tempos verbais presentes
no fragmento, o narrador emprega
a) o pretérito
perfeito e o presente, tempos básicos da narração, para simular a presença do
leitor na realidade degradante do trapiche.
b) o pretérito
imperfeito e o presente nos trechos narrativos, para construir uma imagem
decadente do trapiche.
c) o pretérito
perfeito e o presente, tempos básicos da descrição, para relatar o processo
contínuo, do passado até o presente, de invasão da areia no trapiche.
d) o pretérito imperfeito e o
presente nos trechos descritivos, para construir duas imagens do trapiche
contrastantes entre si.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Um sarau é o bocado mais
delicioso que temos, de telhado abaixo. Em um sarau todo o mundo tem que fazer.
O diplomata ajusta, com um copo de champagne na mão, os mais intrincados negócios;
todos murmuram, e não há quem deixe de ser murmurado. O velho lembra-se dos
minuetes e das cantigas do seu tempo, e o moço goza todos os regalos da sua
época; as moças são no sarau como as estrelas no céu; estão no seu elemento:
aqui uma, cantando suave cavatina, eleva-se vaidosa nas asas dos aplausos, por
entre os quais surde, às vezes, um bravíssimo inopinado, que solta de lá da
sala do jogo o parceiro que acaba de ganhar sua partida no écarté, mesmo
na ocasião em que a moça se espicha completamente, desafinando um sustenido;
daí a pouco vão outras, pelos braços de seus pares, se deslizando pela sala e
marchando em seu passeio, mais a compasso que qualquer de nossos batalhões da
Guarda Nacional, ao mesmo tempo que conversam sempre sobre objetos inocentes
que movem olhaduras e risadinhas apreciáveis. Outras criticam de uma gorducha
vovó, que ensaca nos bolsos meia bandeja de doces que veio para o chá, e que
ela leva aos pequenos que, diz, lhe ficaram em casa. Ali vê-se um ataviado dandy
que dirige mil finezas a uma senhora idosa, tendo os olhos pregados na
sinhá, que senta-se ao lado. Finalmente, no sarau não é essencial ter cabeça
nem boca, porque, para alguns é regra, durante ele, pensar pelos pés e falar
pelos olhos.
E o mais é que nós estamos
num sarau. Inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de... senhoras e
senhores, recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida
sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda a parte borbulhar o
prazer e o bom gosto.
Entre todas essas elegantes
e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam para ver qual delas
vence em graças, encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha,
princesa daquela festa.
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha, 1997.)
7.
(Unifesp 2013) A forma como se dá a
construção do texto revela que ele é predominantemente
a) dissertativo, com o
objetivo de analisar criticamente o que é um sarau.
b) descritivo, com o objetivo
de mostrar o sarau como uma festa fútil e sem atrativos.
c) narrativo, com o objetivo
de contar fatos inusitados ocorridos em um sarau.
d) descritivo, com o objetivo
de apresentar as características de um sarau.
e) dissertativo, com o
objetivo de relatar as experiências humanas em um sarau.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto e responda
à(s) questão(ões):
A poesia prometida
Fui colega de faculdade, na
década de 1980, do poeta Eucanaã Ferraz. Fizemos o curso de Letras na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, depois, nunca mais nos encontramos
pessoalmente. Duas ou três cartas, dois ou três e-mails. E mais nada.
Quando leio seus poemas, a imagem e
a voz de Eucanaã reaparecem bem nítidas para mim. Trinta anos de distância não
são nada quando a palavra poética está presente.
Esta é uma das promessas
que a literatura (e a poesia em especial) cumpre: vencer tempo e espaço,
reapresentar o ausente, renovar o momento passado, recuperar palavras e
encontros.
1Toda leitura educadora é um
encontro, e todo encontro é dialógico. E todo diálogo em leitura requer
aprendizado: ver de novo e ouvir de novo. Talvez, quando os alunos se queixam
da poesia, ou quando nós, professores, pouco espaço concedemos a ela em nosso
dia a dia – talvez isto seja consequência de urna grande falha educacional. Uma
falha que nos leva a só aceitar a poesia na medida em que a pudermos explicar.
Mas a poesia não existe
para ser explicada. Existe para nos ensinar a ver de novo e a ouvir de novo. Só
isso. E isso é tudo.
[...]
Gabriel Perissé. Revista Educação. São Paulo: Segmento, Ano 15, n° 178, fevereiro, 2012
8. (Uepb
2013) Em relação ao primeiro parágrafo, o texto
apresenta:
a) Procedimento narrativo em
que o estado de espírito e a emoção do narrador estão ausentes.
b) Estilo poético com clareza
da função dos recursos textuais e uso de modalizadores explícitos.
c) Texto essencialmente
informativo em defesa de um ponto de vista sobre a questão abordada.
d) Forma composicional]
narrativa com ênfase no poder simbólico de construções metafóricas.
e) Estratégia narrativa com
predominância de fluxo temporal e discursivo, desenvolvido em primeira pessoa.
9.
(Ufpa 2012) O romance “Primeira manhã”, de Dalcídio
Jurandir, é o sexto volume da série do Extremo-Norte. Alfredo, personagem
central da trama romanesca, protagoniza acontecimentos que lhe ferem
profundamente a adolescência como aluno do primeiro ano do Liceu. Leia, a
seguir, um fragmento da obra:
“[...] Agora a aula de desenho. Alfredo
imagina-se sobre cubos, paisagens, as rosadas meninas do Cícero Câmara;
lembrou-se: o professor Chiquinho, à sombra das ginjeiras carregadas,
desenhando caligrafia, a abrir majestosas letras góticas. Ia, de sua parte,
desenhar agora aquelas três árvores doutro lado do rio, ao pé da armação da
draga, com um esbraseante tapuru sobre a ferrugem? Riscar um peixe uéua, um
jandiá, oito horas da noite mordendo a isca? Ou a pixuneira lilás, e o rosto de
Andreza, só uns traços, boiando do fundo, a gritar: passou por baixo de minha
perna um sucuriju, foi, um deste tamanho, mas sou curada de cobra. E Alfredo
toma um susto: invadindo a sala, um galego gorducho, bigodudinho, com uma
pressa irritada, o bagulho amarelo, a bater a régua na mesa contra trinta e
dois inimigos. – Menino! Menino! Silêncio na cocheira! A aula toda acuava-se,
como se esvaziassem as carteiras, logo avançando, muda, a flechá-lo de ofensa e
ódio. E o buldogue desceu para saber, com ferocidade e triunfo, quem não trazia
papel de desenho, os materiais, os materiais. Quem não tivesse, fora quanto
antes, fora quanto antes. Não tinha mas mas. Rua. Alfredo levantou-se, quis
explicar. – Rua! Rua! Desentulhe a pocilga.”
JURANDIR,
Dalcídio. Primeira manhã. Belém: EDUEPA, 2009, p.199-200.
*Ginjeiras:
variedade de cerejeira (Nota do autor)
A discussão promovida pela obra de Dalcídio
Jurandir, evidenciada no fragmento transcrito, está resumida corretamente em:
a) privilegiam-se o foco
narrativo e a ação dos personagens, o que permite o entrelaçamento entre o
espaço da cidade grande, o ambiente do Ginásio e o tempo das lembranças de
Alfredo.
b) agrupam-se acontecimentos
que demonstram a concretização dos sonhos de Alfredo, narrador-personagem,
evidenciando-se as vantagens que o Ginásio pode acrescentar ao seu conhecimento
do mundo.
c) descreve-se a primeira
manhã de Alfredo, narrador-personagem, exatamente no momento em que o professor
de desenho entra na sala de aula do Ginásio, visivelmente irritado. Ao
assustar-se com as atitudes do professor, Alfredo mergulha nas lembranças do rosto
de Andreza, contornado pelas referências do mundo marajoara.
d) critica-se a dura realidade
da escola brasileira representada no enredo (contextualizado nos meados de
1920), no momento em que a ficção denuncia o clima de ofensas e hostilidade a
que os alunos são submetidos quando convocados, pelo professor de desenho, a
fazer silêncio e a se retirar da sala de aula.
e) narram-se as mudanças que
ocorrem na vida do menino Alfredo que, no contexto do romance, passa a ser
visto, pela mãe, pelos parentes e conhecidos, já como rapaz que estuda na
cidade grande.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Alfabetização, língua
escrita e norma culta
(1) Vivemos numa sociedade tradicionalmente
pouco letrada. Nesse sentido, bastaria lembrar que temos ainda por volta de 15%
de analfabetos na população adulta e que, entre os alfabetizados, calcula-se
que apenas 25% podem ser considerados alfabetizados funcionais, isto é, só esta
pequena parcela é capaz de ler e compreender textos medianamente complexos.
Como consequência e apesar da expansão da alfabetização no último século, é
ainda apenas uma minoria que efetivamente domina a expressão escrita.
(2) Não há dúvida de que, se queremos
alcançar níveis avançados de desenvolvimento, temos de romper essa limitação
decorrente de nossa história econômica, social e cultural – que, por séculos,
mantém concentrados a riqueza material e o acesso aos bens da cultura escrita
nas mãos de poucos.
(3) Para isso, é indispensável diagnosticar
as muitas causas dessa situação e, em consequência, encontrar formas de
enfrentá-la adequada e eficazmente. Andaremos, porém, mal se nem sequer
conseguirmos distinguir, com um mínimo de precisão, norma culta de expressão
escrita.
(4) O uso inflacionado da expressão norma
culta pode ter facilitado a vida e o discurso de algumas pessoas, mas
pouco ou nada tem contribuído para fazermos avançar nossa cultura
linguística. Continuamos uma sociedade perdida em confusão em matéria de
língua: temos dificuldades para reconhecer nossa cara linguística, para
delimitar nossa(s) norma(s) culta(s) efetiva(s) e, por consequência,
para dar referências consistentes e seguras aos falantes em geral e ao ensino
de português em particular.
(5) Parece, então, evidente que é preciso
começar a desatar estes nós, buscando desenvolver uma gestão mais adequada das
nossas questões linguísticas por meio, inclusive, de um debate público franco e
desapaixonado.
(6) Essas questões linguísticas não são,
claro, de pequena monta. Há toda uma história a ser revista, há todo um
imaginário a ser questionado, há toda uma gama de valores e discursos a ser
criticada, há todo o desafio de construir uma cultura linguística positiva que
faça frente à danosa cultura do erro, que ainda embaraça nossos caminhos. (...)
(7) Entendemos que o debate ganhará
substância se começarmos por dar precisão à expressão norma culta.
Continuar a confundi-la com gramática em qualquer um de seus dois
sentidos (conceitos ou preceitos), com norma-padrão ou com expressão
escrita apenas continuará escamoteando os problemas que estão aí a nos
desafiar, quer na compreensão da nossa realidade linguística, quer na
proposição de caminhos para o ensino do português.
(Carlos Alberto
Faraco. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008, p. 29-31. Adaptado).
10.
(Uespi 2012) O texto, com base em seu
desenvolvimento global, poderia ser reconhecido como um texto:
a) injuntivo, no qual são
dadas instruções acerca de como usar certas gramáticas.
b) descritivo, a partir de uma
cena objetiva, em que têm prioridade a observação e a análise.
c) narrativo, em que certo
personagem fala de suas experiências linguísticas.
d) literário, cuja função
principal seria produzir nos possíveis leitores um efeito estético.
e) de divulgação científica,
em que determinados princípios são discutidos e aprofundados.
Gabarito:
Resposta da questão 1:
[D]
[D]
[I]
Verdadeiro. Ao mencionar a oferta de elementos europeus (“pão e peixe cozido,
confeitos, bolos, mel e figos passados”, “vinho”) e a reação dos indígenas
(“cuspiam com nojo” e “demonstraram não gostar e não mais quiseram”),
percebe-se a diferença de comportamento entre os dois povos.
[II]
Falso. Não há menção à antipatia aos indígenas, tanto no trecho apresentado
como na obra em geral. Caminha deteve-se a observar e relatar fatos,
abstendo-se desse tipo de juízo.
[III]
Verdadeiro. O emprego de verbos no pretérito perfeito do indicativo, relatando
cronologicamente as ações dos portugueses e as reações dos indígenas, são
elementos próprios da narrativa.
Resposta da questão 2:
[E]
[E]
[A] Não é um relato
narrativo, mas sim uma descrição de Margarida e do impacto do jovem e puro
monge diante da beleza de uma mulher que fora sua amiga de infância.
[B] Não é um texto
dissertativo por não trazer características de uma argumentação.
[C] O texto é uma ficção,
um romance e não tem caráter instrutivo.
[D] Não se trata de um
texto informativo, o trecho pertence a um romance.
[E] Correta. No excerto descreve-se a
beleza de Margarida e o impacto que sua sensual beleza causou no jovem
seminarista, seu amigo de infância.
Resposta da questão 3:
[A]
[A]
Trata-se de
um texto descritivo, pois sua intenção é transmitir ao interlocutor as
impressões e as qualidades da terra a que os portugueses haviam chegado:
“grandes barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é
toda chã e muito cheia de grandes arvoredos”, “praia redonda, muito chã e muito
formosa”, “águas são muitas e infindas”. É correta a alternativa [A].
Resposta da questão 4:
[C]
[C]
As proposições [II] e [IV]
são incorretas, pois
[II] através do recurso de
caixa alta (ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA) e da expressão “que se danem”, o
eu lírico parece gritar para revelar inconformismo e indignação;
[IV] as marcas de
oralidade, ao contrário do que se afirma, revelam a intenção do autor em
retratar o que é banal e comum.
Assim, é
correta apenas [C].
Resposta da questão 5:
[A]
[A]
[A] Correta. O texto é uma crítica a um costume religioso da época,
no entanto soa paradoxal aos autores: oficializar a quaresma, ou seja, tornar
obrigatório por lei um preceito religioso, que visa ao aperfeiçoamento da alma, enquanto as pessoas continuam
cometendo as mesmas crueldades, os mesmos crimes e delitos de sempre.
[B] Qualquer texto para ser lírico
precisa ser subjetivo, precisa falar de sentimentos e sensações. Este, pelo
contrário, trata-se de um artigo crítico assinado por três pessoas.
[C] Não é uma narrativa por
não conter um enredo, mas sim uma opinião.
[D] É histórico para os
leitores de hoje, mas para os autores que assinavam o artigo, tratava-se de uma
crítica ao presente, afinal foi editado em um semanário da época.
[E] O texto épico tem de ter um herói, trata-se de
um longo poema que conta a história de um povo ou de uma cultura, o que não é o
caso.
Resposta da questão 6:
[D]
[D]
Na
descrição, o autor contrapõe passado e presente, indicando como era o trapiche
outrora, e como é no momento em que os meninos o habitam. Para isso, faz uso do
pretérito imperfeito e do presente do indicativo. Exemplo: “A água passava
[pretérito imperfeito do indicativo] por baixo da ponte sob a qual muitas
crianças repousam [presente do indicativo] agora”.
Resposta da questão 7:
[D]
[D]
O predomínio
de verbos de ligação, a presença constante de adjetivos ou locuções adjetivas
para caracterizar o evento e a ausência de qualquer tipo de manifestação de
desagrado por parte do narrador revelam que se trata de um texto descritivo que
tem como finalidade apresentar acriticamente as características de um sarau.
Assim, é correta a opção [D].
Resposta da questão 8:
[E]
[E]
O texto é
narrativo, desenvolvido em primeira pessoa e mistura elementos textuais
diferentes. Apresenta estilo poético (“vencer tempo e espaço, reapresentar o
ausente, renovar o momento passado, recuperar palavras e encontros”),
expressando emoções (“Quando leio seus poemas, a imagem e a voz de Eucanaã reaparecem
bem nítidas para mim”) e, ao mesmo tempo, argumenta, expõe um ponto de vista,
discursivamente (“Toda leitura educadora é um encontro, e todo encontro é
dialógico”). Há também predominância de fluxo temporal, na medida em que é
apresentada, cronologicamente, a relação com o poeta Eucanaã Ferraz: “Fui
colega de faculdade, na década de 1980, do poeta Eucanaã Ferraz. Fizemos o
curso de Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, depois, nunca
mais nos encontramos pessoalmente”. Assim, é correta a alternativa [E].
Resposta da questão 9:
[D]
[D]
O narrador
descreve o efeito que a ordem intempestiva do professor de desenho provocou nos
alunos, interrompendo o devaneio de Alfredo. O fragmento privilegia a descrição
de uma sala de aula opressiva em que os alunos eram insultados e humilhados
para se manterem em silêncio ou expulsos quando não cumpriam as exigências do
mestre, como se afirma em [D].
Resposta da questão 10:
[E]
[E]
A partir da
constatação de que o Brasil é um país onde apenas uma minoria domina a
expressão escrita, Carlos Alberto Faraco alerta para a necessidade de se
analisarem as causas da situação a fim de se encontrarem soluções para o
problema e, para isso, propõe que se faça a distinção entre “norma culta”,
muitas vezes confundida com “gramática”, e “expressão escrita”. Desta forma, e
por se tratar de um fragmento de “Norma culta brasileira: desatando alguns nós”
em que o gramático se propõe apresentar a sua teoria, o texto adquire valor
científico.
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