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A (i)Lógica da Língua

Meu amigo Claudismar, professor de História e Filosofia em Sinop, fez-me um questionamento.
Um aluno seu escrevera em prova que ""...a Europa vivia um período de intenso problema..." e sua indagação era se ele deveria corrigir a expressão do aluno, já que a Europa, por ser um continente, não viveria os problemas, mas sim sua população, logo seria melhor que o pupilo tivesse escrito "a Europa passava por problemas" ou ainda "os europeus viviam em um período de intenso problema"?
A verdade é que naquela mesma semana em que ele me perguntou sobre o assunto, havia lido uma matéria escrita por Sírio Possenti, famoso linguista da Unicamp, na qual relatava justamente como seria desproposital procurar modificar uma expressão idiomática tão utilizada desde sempre por outra "mais lógica".
Perguntei a Claudismar se realmente a crise se passava em TODA a Europa ou só em alguns países. Ele confirmou que a crise era generalizada. Bom, então nesse caso, eu disse, não consigo ver problema na construção de seu aprendiz. Ela é muito lógica e tem base explicativa na Estilística: insere uma figura de linguagem chamada Metonímia, já que há uma troca semântica do habitantes pelo lugar. Figura esta que consta em qualquer gramática "boa" ou "ruim".
A minha preocupação é justamente esta: ter que achar uma explicação LÓGICA para toda e qualquer expressão que exista em Português.
É muito pertinente a intervenção de Sirio quando expõe o modismo da explicação para tudo. E, pior, das correções que justificariam essas construções.
É o que acontece com "batatinha quando nasce ESPALHA RAMA pelo chão" ou "quem tem boca VAIA Roma" como se fosse lógico VAIAR a famosa cidade e, consequentemente, ilógico perguntar que caminho seguir para chegar lá. Agora quando a batata espalha rama ela não se esparrama? Que lógica é essa?
Qualquer Língua possui "expressões idiomáticas", isto é, próprias do idioma, por isso não traduzíveis literalmente (ou logicamente, se preferir) as quais podem ter o mais esdrúxulo motivo como o adjetivo "mauricinho" baseado em personagem do Casseta & Planeta da Rede Globo, mas que não mais aparece no programa e, que possivelmente daqui a alguns anos terá (ou não) sua explicação baseada em alguma personagem da história ou da literatura, sei lá...
A verdade é que devemos ser mais condescendentes com nosso idioma e não reduzi-lo ao estrato de uma ciência exata. Linguagem é muito mais! É dinâmica, mutável, com várias interpretações, como diria Chico Buarque em sua música "Uma Palavra":

"...

Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra"

Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra"

...

Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra"

Espero que você tenha entendido o "espírito da coisa"...

Até!

Se quiser conferir, clique no texto do Sirio na Revista Língua Portuguesa

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